É comum ouvirmos a seguinte afirmação: se está em cuidados paliativos, é porque não existe mais nada a ser feito. Essa sentença contém um erro infelizmente muito comum do dia a dia de quem trabalha com esse tipo de cuidado.

Para que possamos entender um pouco melhor, o cuidado paliativo é sim um cuidado complementar e holístico que não só pode como deve ser introduzido a todo paciente portador de uma doença que ameaça a continuidade da vida.

Traduzindo: é um cuidado que traz com sigo muito a ser feito desde o momento do diagnóstico, durante a caminhada dessa doença ou até que essa jornada chegue a qualquer um dos seus desfechos, pois podem ser muitos.

Recentemente, o Ministério da Saúde lançou a Política Nacional de Cuidados Paliativos no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). A expectativa é que 1,3 mil equipes sejam implantadas em todo o território nacional, reforçando ainda mais a importância desta abordagem de tratamento.

Os cuidados paliativos, dando um enfoque maior a pediatria, que é minha especialidade, não é uma sentença de morte e sim um modelo de atenção integral, uma jornada de cuidado da vida e de todas as vidas envolvidas no cuidado de uma criança. Não se resume a um cuidado apenas de sintomas físicos, mas abrange as esferas psíquicas e sociais de todos aqueles que compõe a rede de apoio dessa criança. Ela nunca vem sozinha, no mínimo temos um pai e uma mãe, irmãos, avós, tios.

A palavra palliare tem origem no latim e significa proteger, amparar, cobrir, abrigar. Na sua definição crua, não há espaço para abandono ou desistência.


- Dra. Ciana Indicatti
Intensivista Pediátrica e Gerente Médica do GRUPO DOC
CRM 33423